Podres de mimados - Theodore Dalrymple
setembro 28, 2020O livro é dividido em 6 capítulos, no primeiro deles o autor defende a tese que a causa da sociedade estar "Sentimentalista" é em partes devido a educação que segundo ele, não esta rígida o suficiente e possui um excesso de liberdade para o aprendizado a consequência para isso é um desperdício de talentos e uma diminuição da cultura.
"Se a linguagem não é correta, então aquilo que se diz não é o que se quer dizer; se o que se diz não é o que se quer dizer, então o que deve ser feito permanece por fazer, se isso permanece por fazer, a moral e a arte vão deteriorar-se; a justiça se perde, as pessoas ficarão confusas. Por isso, não deve haver qualquer arbitrariedade naquilo que se diz. Isso é mais importante do que tudo" Confúcio
A preocupação do autor com a educação me lembrou um pouco o livro de ficção 1984 de George Orwell em que um governo ditatorial controlava a linguagem, com uma agenda de diminuir a cada ano o número de palavras do idioma, criando para a mesma palavra significados opostos, no livro o governo faz isso para controlar o pensamento da população.
"Assim uma palavra passa a incluir coisas demais e a significar coisas de menos"
Ele tem uma preocupação semelhante com outro sintoma da educação mais livre: o medo de frustrar as pessoas, desde crianças, dificultando dessa forma o aprendizado em relação as dificuldades, isso é evidenciado principalmente em relacionamentos, pois se idealiza relacionamentos perfeitos, o que não existe, e na primeira ocasião onde é necessário esforço ou a frustração acontece o relacionamento é abandonado.
Outro sintoma do sentimentalismo que ele cita é não saber controlar as emoções e agir de acordo com as proporções dos acontecimentos, ele cita um exemplo de um pai que comprou um peito de frango no supermercado, a esposa cozinha e na hora de servir havia um pé de galinha no prato de sua filha de 11 anos, nesse exemplo a menina faz um escândalo, não come, chora muito e o pai resolve processar o supermercado por ter vendido o pé de galinha junto com a embalagem de peito, não estou defendendo o supermercado, mas concordo com o autor que os argumentos que motivaram o processo foram exagerados e poderiam ter sido enxergues de uma forma mais racional.
Nos capítulos 4 e 5 "A exigência de emoção pública" e "o culto da vítima" ele mostra alguns exemplos reais em que o culto romântico da sensibilidade acontece, conferindo autoridade moral ao sofredor e quem não sofre se torna alguém com uma deficiência de caráter, que tem ausência de imaginação e sentimento.
Ele trouxe inúmeros casos, o que me deixou um pouco chocada, de autores de memórias sofridas, de vidas miseráveis e abusos infantis, que na verdade cresceram em boas famílias e nunca passaram por nada que haviam relatado, mas que ainda assim, inventavam desculpas para se apoiar em um sofrimento que justificasse a própria fraude.
"Ouvir com uma referência acrítica aqueles que sofreram muito, apenas por causa de seus sofrimentos, provavelmente começou após a segunda guerra mundial e tornou-se um hábito."
Esse trecho do livro me lembrou o livro "Em busca de sentido de Viktor Frankl" que é um relato de um psicólogo sobre os seus dias preso no campo de concentração, em uma parte do livro ele fala que nem todo judeu era bom e nem todo guarda alemão ruim, não havia como ser preto no branco, não é porque alguém sofreu que lhe é concedido o direito de fazer qualquer coisa.
De forma geral não é um livro de fácil leitura, o autor trás argumentos válidos, mas em alguns momentos eu senti falta de uma diversidade maior de argumentos, senti que a construção do livro foi enviesada e nem todos os argumentos me convenceram, em outros no entanto concordo com ele.
A linguagem é um pouco rebuscada e prolixa, porém uma de suas críticas é ao baixo domínio da linguagem, então achei coerente a utilização de uma norma culta.
Para finalizar um trecho que me marcou do livro foi:
"No mundo moderno um homem bom é um homem que tem opiniões corretas e que enuncia sentimentos impecáveis, sendo sua conduta efetiva consideravelmente menos importante"
Em épocas de internet onde acompanhamos muitas opiniões fervorosas e poucas ações e um livro que elenca várias discussões importantes.
Você já leu o livro? Me conta o que achou nos comentários!
Ainda não leu? Compre aqui
0 comentários