Fahrenheit 451 - A primeira escolha do Clube do Livro Maringá

agosto 18, 2020

 







Fahrenheit 451 é uma distopia escrita por Ray Bradbury 1953, que ganhou uma nova edição em 2012. Eu ganhei o livro de aniversário no ano passado e terminei ele em novembro, foi um livro que me deixou com a cabeça explodindo. Foi com ele inclusive que eu aprendi o que é uma distopia, mesmo já tendo lido algumas,se você ainda não sabe o que é uma distopia clique aqui.

Ele foi o primeiro livro escolhido pelo Clube do Livro Maringá, um clube que eu e algumas amigas montamos para trocarmos experiências de leitura e manter o hábito ativo! 

Sinopse

Imagine uma época em que os livros configurem uma ameaça ao sistema, uma sociedade onde eles são proibidos por um governo totalitário que reprime os cidadãos censurando qualquer forma de pensamento crítico e autônomo, incentivando a alienação. 

E como isso funciona? Se você tem livros na sua casa e seu vizinho desconfia disso, ele ligar para quem? Para os bombeiros. A função dos bombeiros agora é outra, ao invés de apagar incêndios eles agora ateiam fogo nas bibliotecas clandestinas para manter a ordem social.

Nesta sociedade a população é cada vez mais alienada as casas são dotadas de televisões que ocupam paredes inteiras e programas de televisão interativos onde você pode dialogar com as famílias, como se fosse um the sims ou o realty The circle, você é um dos personagens e como não existem conflitos nessa sociedade, muitas pessoas vivem para o programa.

É neste cenário que vive Guy Montag, um bombeiro tradicional, que segue a profissão, porque foi a de seu pai e de seu avô, mas que depois de algumas situações começa a repensar o sistema em que trabalha. 

Acontecimentos que fazem o Montag repensar o sistema


A primeira coisa que acontece é que ao chegar em casa ele encontra sua esposa, Mildred, desmaiada porque tomou muitas pilulas para dormir (como o rivoltril dos dias de hoje) ele preocupado chama os paramédicos, que atendem ela e ela acorda no dia seguinte pleníssima, sem lembrar de nada, preocupada apenas em assistir o programa interativo nas tvs da sala e comprar mais algumas para ficar igual a da sua vizinha. 

Outra situação que o faz começar a perceber o quão rasa e vazia é sua vida, é conhecer sua vizinha Clarisse, uma adolescente problemática, problemática para a sociedade, afinal ela questionava os padrões, gostava de observar a natureza e os comportamentos e nessa sociedade imaginada pelo Ray Bradbury, isso era perigoso. Quando ela conhece Guy ela não fala sobre a televisão ou apenas pelo seu trabalho, ela pergunta como ele esta e realmente o escuta, e ele começa a refletir que ela é a unica que faz isso. 

Outra situação que o leva a mudar de lado é um chamado que o corpo de bombeiros recebe sobre uma biblioteca clandestina na casa de uma senhora e ela se recusa a sair da casa e morre em quanto os seus livros são queimados, ele reflete porque ela esta morrendo por seus livros? O que eles trazem de tão bom que valha a pena morrer por isso? 

A partir disso ele muda de lado e começa a querer saber mais sobre os livros.

Simbologia 

Antes de entrar nas minhas impressões, queria dividir uma curiosidade que achei muito genial o titulo do livro, 451 graus Fahrenheit (232,78°C) é a temperatura necessária para que um papel se queime, fala sério se o autor não foi um gênio?

Contexto histórico 

Fahrenheit 451 foi escrito após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1953, o autor viveu a censura feita pelo estado nazista e em uma época em que a comunicação em massa estava crescendo. 

Sobre o autor


Ray Douglas Bradbury foi um escritor americano, seus gêneros principais foram ficção-científica e fantasia.

Fahrenheit 451 é a sua obra mais conhecida, algumas outras são Crônicas Marcianas (1950) e The Illustrated Man (1951).

Os primeiros rascunhos e manuscritos de contos e estórias desenvolvidas pelo autor datam de 1931, quando este tinha cerca de onze anos de idade, acho tão incrível quando eles tem esse dom maravilhoso desde pequenos. 



Minhas impressões

Como eu falei foi um livro que me deixou com a cabeça explodindo em vários trechos. Selecionei alguns para falar mais sobre aqui. 

Primeira coisa que me chamou muito a atenção foi sobre a descrição da tecnologia das televisões e fones de ouvido, que na minha opinião se aproxima muito do que existe hoje e no alerta da dependência da tecnologia. As interações feitas nessa sociedade em grande parte são com a família da televisão, não acontecem muitos diálogos entre as pessoas, de certa forma podemos relacionar com as redes sociais, onde muitas vezes conversamos durante o dia todo com várias pessoas, mas com quem esta ao nosso lado trocamos pouquíssimas palavras.

Outro ponto que me chamou muito a atenção foi como os livros foram proibidos, porque eu imaginava que havia sido um golpe de estado, mas em uma conversa entre o Montag e seu chefe (para mim a melhor parte do livro) o Capitão explica que essa medida partiu da população, de que forma? 

Primeiro pela falta de interesse, em uma sociedade onde o tempo de atenção era cada vez menor, livros se transformaram em peças, filmes, as histórias precisavam ser cada vez mais curtas. 

"Clássicos reduzidos para se adaptarem a programas de radio de quinze minutos, depois reduzidos novamente para uma coluna de livros de dois minutos de leitura, e, por fim encerrando-se em um dicionario, num verbete de doze linhas"

O quanto disso não vemos nos dias de hoje? Pessoas que acham estranho quem prefere o livro ao filme ou a série, pessoas que não cultivam o hábito da leitura? Ou ainda, as pessoas que leem apenas a manchete e saem disseminando fake news? 

Um outro trecho do livro que mostra um pouco do que vivemos hoje, o imediatismo, a falta de interesse em aprender algo fora da caixa, afinal aprender demanda tempo e tempo é artigo de luxo.

“a escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?"

Mas a revelação na minha opinião mais chocante é que as pessoas do mundo criado por Ray Bradbury abriram mão de se expressar e ser pensar diferente para evitar conflitos. 

"Quanto maior a população, mais minorias. Não pise no pé dos amigos dos cães, dos amigos dos gatos, dos médicos, advogados, comerciantes, patrões, mórmons.... Lembre-se Montag, quanto maior o seu mercado, menos você controla a controvérsia! Todas as menores das menores minorias querem ver seus próprios umbigos, bem limpos" 

"Autores cheios de maus pensamentos, tranquem suas máquinas de escrever! Eles o fizeram. As revistas se tornaram uma mistura insossa. Os livros, assim diziam os malditos críticos esnobes, eram água de louça suja. Não admira que parassem de ser vendidos, disseram os críticos. Mas o público, sabendo o que queria, com a cabeça no ar, deixou que as histórias em quadrinhos sobrevivessem. E as revistas de sexo em 3-D, é claro. Aí está, Montag. A coisa não veio do governo. Não houve nenhum decreto, nenhuma declaração, nenhuma censura como ponto de partida. Não! A tecnologia, a exploração das massas e a pressão das minorias realizaram a façanha, graças a Deus. Hoje, graças a elas, você pode ficar o tempo todo feliz, você pode ler quadrinhos, as boas e velhas confissões ou os periódicos profissionais”

“Você precisa entender que nossa civilização é tão vasta e agitada que não podemos permitir que nossas minorias sejam transtornadas e agitadas. Pergunte a si mesmo: O que queremos neste país, acima de tudo? As pessoas querem ser felizes, não é certo? Não foi o que você ouviu durante toda a vida? Eu quero ser feliz, é o que diz todo mundo. Bem, elas não o são? Não cuidamos para que sempre estejam em movimento, sempre se divertindo? É para isso que vivemos, não acha? Para o prazer, a excitação? E você tem de admitir que nossa cultura fornece as duas coisas em profusão”

“Os negros não gostam de Little Black Sambo. Queime-o. Os brancos não se sentem bem em relação à Cabana do pai Tomás. Queime-o. Alguém escreveu um livro sobre o fumo e o câncer de pulmão? As pessoas que fumam lamentam? Queimemos o livro. Serenidade, Montag. Paz, Montag. Leve sua briga lá para fora. Melhor ainda, para o incinerador. Os enterros são tristes e pagãos? Elimine-os também. Cinco minutos depois que uma pessoa morre, ela está a caminho do Grande Crematório, os incineradores atendidos por helicópteros em todo o país. Dez minutos depois da morte, um homem é um grão de poeira negra. Não vamos ficar arengando os in memorian para os indivíduos. Esqueça-os. Queime tudo, queime tudo. O fogo é luminoso e o fogo é limpo”

A primeira coisa que me vem na cabeça lendo esses trechos é a cultura do cancelamento que estamos vivendo hoje em dia, parece que na cabeça das pessoas que cancelam as outras se passa o seguinte ponto "tudo que é contrário a minha bolha ou ao que eu concordo? Não presta e não deveria existir" mas quem determina qual é o julgamento correto ou não? 

Espero que no nosso caso ao invés de jogar fogo ou cancelar o que não concordamos, tomemos a atitude de dar espaço a conversas respeitosas, trocas de experiências e a valorização do senso crítico, pois só assim poderemos evoluir como sociedade. 

Um vídeo muito legal que fala sobre isso é o "How Fahrenheit 451 Predicted Fake News – How Did We Get Here?" para assistir clique aqui, ele esta em inglês. 

Se você já leu o livro me conta o que achou! Se não leu, aproveita esse material de apoio com curiosidades, pontos principais e espaço para anotações, que foi elaborado pelo Clube do livro Maringá!  



Leia também

0 comentários